CRÍTICAS
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Conheci Mary Di lorio recentemente, numa exposição no Rio de Janeiro, e me espantei do nível de criatividade de sua produção. Ceramista, seu trabalho afasta-se nobremente de uma conotação puramente decorativa, para instalar-se no ritmo da organicidade fecundada pelo espaço e pela força do instinto. O barro (chamemos assim toda a matéria moldável que ela manipula) em suas mãos, assume a vitalidade mutante de uma metamorfose bruta, suas peças surgem como sobrevivências arqueológicas, de uma civilização mais pura em suas intenções. A consciência da funcionalidade do objeto, ligada ao prazer da fidelidade às características da matéria prima, e finalmente a interferência criadora de uma projeção de ordem reflexiva sobre formas convencionais, fazem da experiência desta ceramista, pesquisadora e mestra, um momento pessoal e único dentro da arte brasileira de hoje. Numa terra como a nossa, rica em reservas naturais de argila, é incompreensível o estágio servil e incipiente da cerâmica artística, apenas amenizado pelas oficinas esparsas da colonização oriental, o que não chega a indiciar um estilo, ou mesmo um vocabulário especificamente nacional para uma categoria que em muitos países do mundo sintetiza uma imagem do caráter e cultura de seus povos. No Brasil, é certo, a cerâmica de origem popular tem uma história a ser contada, e o que destaca a criação de Mary Di lorio é certamente a forte intuição criadora que retoma estas raízes arcaicas, e as condiciona a uma linguagem erudita que não estiliza invenção ínsita, mas informa sua pureza genesíaca de conotações críticas e conceituais.
Walmir Ayala Rio, março de 1982
A viagem do homem à Lua não teve uma análise em profundidade a respeito de suas consequências e implicações, merecendo reflexão por parte de toda a humanidade.
Porém, ao fazer-lhe apenas menção. tomamos consciência de que estamos vivendo a época máxima da tecnologia e assistimos ao esplêndido espetáculo do cientificismo.
Nesse contexto, as artes procuram utilizar-se dos recursos proporcionados pelas novas conquistas técnicas e exprimir os elementos essenciais que informam a problemática do homem da sociedade industrial e tecnológica.
Assim, é curioso encontrar-se uma artista dedicada ao trabalho artesanal, dentro do gênero que vem sendo cultivado desde as primeiras horas da civilização, Paralelamente a todas as proposições novas da arte contemporânea, Mary di Iorio está entregue à elaboração da cerâmica, o que escapa de inicia, à constante ruptura com o tradicional e preocupação de novidade que dinamizam criação atual.
Entretanto, a cerâmica de Mary di Iorio revela o talento inventivo da artista, que apresenta formas inéditas em interessante criação. Essa originalidade formal e cromática de seu trabalho confere-lhe o valor e a força que o transcendem à simples finalidade decorativa ou utilitária da cerâmica. A produção de Mary di Iorio traz, realmente, a marca de sua personalidade criadora que singulariza sua cerâmica e a informa enquanto obra de arte.
Dos vasos que não negam o sabor etrusco, às formas inspiradas nas coisas e motivos próprios de seu tempo, Mary di Iorio realiza um trabalho que merece elogio e valoriza um gênero de arte de certo modo estagnado.
Angelo Oswaldo de Araújo Santos
APRESENTAÇÃO:
A sensação que se tem é de que o ritmo assumiu forma plástica nos movimentos curvilíneos da cerâmica de Mary Di lorio. Suas peças invadem o espaço que se curva com humildade ante a arrogância e nobreza com que se erguem. Embora de constituição mignon, a artista Mary Di lorio é portadora de uma energia incomum, que ela transfere para o seu trabalho, fazendo com que a cerâmica assuma uma dimensão nova no conceito das artes maiores atuais. Na cerâmica de Mary os volumes e os vazios têm igual importância. Os cortes, as aberturas, os contornos ou os caminhos que suas formas percorrem articulam-se em plena concordância no desenvolvimento e na cristalização das idéias. Vigorosa, cheia de intenções orgânicas, de volume, peso e densidade, as peças de Mary entretanto, não se mostram estáticas ou frias. Elas são inquietantes e plenas de modulações, e, em toda a sua estrutura os valores expressivos ultrapassam a mera representação e determinam o caráter da obra. Mary tem sido uma apropriadora genial de sua própria obra, apoderando-se permanentemente das concepções e técnicas anteriores, reavaliando-as com extremo senso de unidade e coerência, no correr de sua vertiginosa ascensão. A partir do primitivismo histórico da arte do barro e do valor cultural dessa prática artística, a cerâmica de Mary resume todos os princípios históricos, técnicos e culturais. Ela preserva todos esses valores, enfatizados por uma decidida intenção de prosseguir, crescer e consequentemente perpetuar a importância da cerâmica, registrando com o seu potencial criativo, recursos técnicos e pesquisas novas, a passagem dessa arte pelo seu tempo.
Mari'stella Tristão 1980
inauguração dia 15 às 21 h
Work in Process With the accelerated growth of technology and its issues causing so much concern, we have had to use alternatives in our living and working. So, as the Internet was already in my work process, it gave me more courage to make a greater change and transgression when making ceramics. Now, I want to animate it, transgress it, give it movement, physical, apparent movement. I want to guarantee its visibility so that it can be displayed online in a new experience, without prediction. This makes me even more excited.
Because the biggest motivation is to break the result of burning the clay when it makes the ceramic inflexible, and to move it in a playful way, thinking: creation and audacity, intersections, contacts and friction throughout the creation process and, to nullify the first function of the forms, creating other forms and either/other form with a time for them.
A construction process between ceramics and other media, mixing image references and fictitious imbrications of memory and where sounds confirm the work. The works must be shown in a loop and with the loudest sound, as it is the sound that definitively confirms their movements. It is very important to observe the movement that accompanies each animated work. The process of developing animations, in addition to the physical presence of the work, has the intention of, at all times, re-signifying and transcending the form or forms in themselves. Hence providing the eye with a new perception at each moment of the work. Just like that. Thinking more and more. Writing and drawing too.
Mary Di Iorio
Para a Mary, artista da terra e do fogo, artista da determinação e da crença no barro, ofereço com respeito e carinho.
Paulo Herkenhoff